Tuesday, February 06, 2007


O Aeroporto e o Aborto


Para a maioria das pessoas que não estão em estado de hipnose, o aborto e o aeroporto têm muito a ver um com o outro. O aborto é uma discussão interminável e bastante inútil, que faz divergir a atenção dos cidadãos de temas importantes como o aeroporto.

O aborto era um problema real no tempo em que eu nasci (ufff…!). Nessa altura, com meios rudimentares de contracepção, abortavam as ricas e as pobres, as novas e as velhas, todas. Era proibido mas era trivial, era também perigoso porque era, de facto, clandestino. Hoje só se engravida sem querer por grande azar ou grande descontrolo, nada que se assemelhe a um problema generalizado ou a um “flagelo”. Mas nós lá vamos a votos decidir sobre este grande problema.

O aeroporto é um problema real hoje. Estamos pobres, e no Hospital de Santa Maria, no verão passado, havia enfermarias com pessoas de muita idade, muito doentes, sem ar condicionado, que ainda não foram arranjadas. Há pessoas de grande idoneidade que levantam dúvidas galácticas sobre a utilidade do aeroporto e apontam soluções muito mais baratas. Os cidadãos pagadores não foram informados com clareza, e em linguagem acessível, sobre as alternativas e sobre a racionalidade da escolha. Neste caso os nossos representantes decidem e pronto.

Talvez haja uma solução coerente com a pulsão abortífica de Portugal e, em simultâneo, com algum recato no uso dos nossos recursos: abortar o aeroporto. Há quem diga que não existem condições económicas para que ele nasça, há quem diga que o aeroporto tem uma grave deficiência, há quem diga que ele resulta de uma violação brutal, cujo autor só a mãe conhece, mas por grande vergonha e desorientação não diz a ninguém.

Por isso, estabelecimento de saúde legalizado com ele, e pimba: abortado! Isso é que era um bom uso para os 15 milhões de euros que o referendozinho vai custar.

2 comments:

LANIUS said...

Carlos,

A meu ver a sua visão do problema é simplista, injustamente economicista e sobretudo, não fundamentada nos problemas da sociedade de hoje - aliás nesse aspecto nem compreendo a sua posição.
Felizmente a sua postura e opinião não vingaram.

Cumprimentos,


Luís Reino

Carlos Rio Carvalho said...

Cá venho eu magoado da verdadeira carga de pancada que o meu amigo Luis Reino me aplicou.

Isto a malta mete-se com o Sensei e depois dá nisto...!

Agora a sério:
Simplista, de acordo. O problema é muito simples ou eu pelo menos penso que é, até porque ninguém fez o obséquio de apresentar estudos que situassem de forma objectiva a dimensão e natureza do problema.

Economicista? Está enganado. Só não gosto de areia nos olhos enquanto se decide o destino da massa que é de todos. Sua também.Além do mais, desconheço o significado do termo "economicismo".

Não fundamentado? Não fundamentação gritante parece-me a mim o facto de ninguém conhecer a "situação de referência" do aborto.

Agora com a "Espanhola dos Abortos" que diz que pode deixar de haver cuidado porque o aborto é livre, vamos ter finalmente um indicador fiável: a facturação que a "Corporacíon Abórtifica" vai ter.

Quanto à minha opinião ter sido derrotada no referendo, já vou estando habituado e feliz com a minha posição minoritária.

Mais que cumprimentos, um abraço amigo Luís...

Carlos Rio Carvalho