Saturday, February 24, 2007




Que grande decepção com o Prof Correia de Campos. Negociar com Câmaras Municipais?...Por causa de umas manifestações de província cair em contradição?

O Ministro apresentou um plano de reestruturação das urgências. Muita gente, eu incluído, acredita que existe racionalidade nesse plano e que a determinação do ministro resulta de estar convicto da sua razão, o que justifica até a atitude algo arrogante que é a sua marca.

Este assunto tem grande densidade política e a aparente convicção e determinação do ministro aparentemente não chega. O estilo "é assim porque eu quero e pronto", provocou uma reacção alérgica de propagação rápida e abriu brechas no dispositivo da maioria.

Aparecem então os seis protocolos para tentar compor a coisa. Em seis municípios afinal é possível ceder aos autarcas, apesar do plano estar optimizado e de ser essa optimização a anterior justificação moral e política para as atitudes mais inflexíveis. Afinal o plano das urgências é negociável.
Houve no entanto alguns que ficaram de fora,as razões de inclusão ou exclusão não são compreensíveis para o cidadão comum. Provavelmente os incluídos vão sentir-se vendidos e os excluídos vão sentir-se ainda mais isso mesmo.

Não vai ser possível fazer reformas suportadas na força bruta nem na saúde nem em sector nenhum, acreditando que o "quanto mais me bates mais gosto de ti" vai funcionar sempre. Esse método só é possível em ditadura. Em democracia é mesmo necessário dialogar, como aliás se nota bem neste caso.

Monday, February 19, 2007


8,2


A taxa de desemprego (medida pelo inquérito ao emprego do INE) aumentou 0.8 % do terceiro para o quarto trimestre www.ine.pt . Existe o efeito sazonal, mas esta taxa também é superior à taxa homóloga de 2005, embora em 2006 o crescimento económico tenha sido superior. Então o que aconteceu?

Aconteceu que a manta é curta. Para cobrir o deficit o estado aumentou a carga fiscal e a eficiência na cobrança dos impostos às PME. Os ajustamentos que as PME fizeram, mais o encerramento de outras (Opel na Azambuja por exemplo), justificam o aumento do desemprego.

Com o estado a despedir, o investimento e a economia a não crescerem o suficiente de novo em 2007, não parece provável que haja mais emprego nos próximos meses. Estas coisas digo eu que não percebo nada de economia, portanto não levem muito a sério.

Alguém terá com certeza este processo controlado e pilotado, a derrapagem será seguramente curta e o amanhã cantará com uma esperança renovada… bla, bla, bla, bla bla, bla.

Esta conversa dói como uma ferida aberta para aqueles cujo amanhã é apenas menos um dia de reservas, para quem cada euro gasto é um suplício porque não sabem quando e se vão poder ganhá-lo de novo. Essa é a cruel realidade atrás de cada décima milésima da taxa de desemprego. Isto sim é um verdadeiro flagelo, mas este não se discute nem se resolve com referendos.
Provavelmente não existe outra solução, mas a bebedeira dos números é mais grave que a bebedeira do álcool. Ao indicador do INE contrapõe-se agora o número "sombra" do Instituto do Emprego cuja divulgação baralha (ou serve para baralhar) muitas pessoas: os inscritos nos centros de emprego desceram 6.8% em relação ao período homólogo do ano passado (bravo!), de Dezembro para Janeiro subiram 1.1% (ohhh!) . Acontece que os ficheiros são sujeitos às normais actualizações e limpezas e dizem alguns especialistas que as comparações inter - anuais com 2005 são imperfeitas.
O número do Instituto de Emprego também é útil, mas usá-lo de facto como contraponto ao número do INE é apenas contra - informação.

Monday, February 12, 2007


O infiltrado


O Procurador – Geral, o Dr Macedo e o Director da Judiciária, reuniram-se para alinhar uma estratégia contra a fraude fiscal. No “press release” sobre a reunião, distribuído antes desta começar, informaram o País que dessa estratégia constaria a “infiltração” de agentes nas empresas.

É um método policial, sem dúvida. Mas com anúncio prévio?

Infiltrar um agente para combater a corrupção, dentro da lei e em casos com gravidade que o justifique, é uma operação policial legítima, secreta por natureza.

Anunciar nos órgãos de comunicação que vão infiltrar agentes é um acto de coacção psicológica, que confirma a inexorável tendência para o autoritarismo que está a ocorrer em Portugal.

Em muitas empresas a pergunta agora é: Quem é o infiltrado? Será o TOC admitido em Setembro, o administrador que chegou em Julho. Não … esse não tem cara disso…O Teixeira esse…esse é que eu acho que é o infiltrado! Eu sei, que o gajo tem um amigo nas Finanças, porque a Odete disse-me. A Odete, aquela que andou com um primo dele!

Esta administração de feitio pragmático e autoritário, parece no entanto ser do maior agrado do povo português. Também já vimos disto antes.

Tuesday, February 06, 2007


O Aeroporto e o Aborto


Para a maioria das pessoas que não estão em estado de hipnose, o aborto e o aeroporto têm muito a ver um com o outro. O aborto é uma discussão interminável e bastante inútil, que faz divergir a atenção dos cidadãos de temas importantes como o aeroporto.

O aborto era um problema real no tempo em que eu nasci (ufff…!). Nessa altura, com meios rudimentares de contracepção, abortavam as ricas e as pobres, as novas e as velhas, todas. Era proibido mas era trivial, era também perigoso porque era, de facto, clandestino. Hoje só se engravida sem querer por grande azar ou grande descontrolo, nada que se assemelhe a um problema generalizado ou a um “flagelo”. Mas nós lá vamos a votos decidir sobre este grande problema.

O aeroporto é um problema real hoje. Estamos pobres, e no Hospital de Santa Maria, no verão passado, havia enfermarias com pessoas de muita idade, muito doentes, sem ar condicionado, que ainda não foram arranjadas. Há pessoas de grande idoneidade que levantam dúvidas galácticas sobre a utilidade do aeroporto e apontam soluções muito mais baratas. Os cidadãos pagadores não foram informados com clareza, e em linguagem acessível, sobre as alternativas e sobre a racionalidade da escolha. Neste caso os nossos representantes decidem e pronto.

Talvez haja uma solução coerente com a pulsão abortífica de Portugal e, em simultâneo, com algum recato no uso dos nossos recursos: abortar o aeroporto. Há quem diga que não existem condições económicas para que ele nasça, há quem diga que o aeroporto tem uma grave deficiência, há quem diga que ele resulta de uma violação brutal, cujo autor só a mãe conhece, mas por grande vergonha e desorientação não diz a ninguém.

Por isso, estabelecimento de saúde legalizado com ele, e pimba: abortado! Isso é que era um bom uso para os 15 milhões de euros que o referendozinho vai custar.