O Estado Laico
No Hospital Egas Moniz em Lisboa foram retirados os crucifixos de uma unidade de cuidados intensivos, em nome da lei e da laicidade do Estado. Em vão alguns médicos tentaram fazer ver que muitos doentes encontram ânimo na presença de um símbolo da sua fé, e que isso pode contribuir para a sua cura. Em vão alguns médicos informaram que as pessoas de todas as religiões, e não só os cristãos, podem ser acompanhados por símbolos religiosos naquele hospital, porque, para além dos aspectos morais e de princípio, é um erro técnico privar os doentes de algo que os fortalece. Em vão se relembrou o burocrata que os cristãos estão em larga maioria nas enfermarias do hospital e que, por esse motivo, os símbolos cristãos estão tradicionalmente mais presentes.
Tudo em vão, porque a autoridade do Estado prevaleceu e o funcionário subiu ao escadote e retirou os crucifixos.
O Director Geral dos Impostos mandou rezar uma missa na Sé de Lisboa pedindo a graça de Deus para os funcionários do fisco. À porta da missa estava toda a comunicação social. Os convites para a missa foram feitos pelo Director Geral, demonstrando que tem o poder suficiente para ignorar ostensivamente o princípio da laicidade do Estado e para ignorar também todos os funcionários que não são católicos apostólicos romanos.
A missa dos impostos e a censura dos crucifixos são sintomas de uma orientação clara de manipulação de símbolos. O Director Geral quis associar a imagem dos impostos ao poder Divino, chamar a atenção para a fonte do seu poder pessoal e, ao mesmo tempo, trazer o fisco para uma esfera mais humana de “pessoas que vão à missa”. O Administrador do Hospital quis chamar a atenção para o seu poder, retirando Cristo da parede, antes de passar aos despedimentos, alterações de horários e outros exercícios de poder mais terrenos.
Em ambos os casos, embora de forma contraditória, foi utilizada e manipulada a simbologia religiosa cristã, porque o Estado está a atravessar uma fase aguda da sua tendência crónica e multissecular de controlo da sociedade civil, religião incluída. O fenómeno não é novo e teve como virtuosos intérpretes personagens tão célebres como Sebastião José de Carvalho e Melo, Afonso Costa ou António de Oliveira Salazar.
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