Wednesday, January 31, 2007


2033


O Dr Bagão Félix mergulhou e emergiu com o Artº 2033º que estava submerso e coberto de areia nas profundezas do Código Civil.

O artigo diz respeito à definição de quem pode herdar :

Têm capacidade sucessória, além do Estado, todas as pessoas nascidas ou concebidas ao tempo da abertura da sucessão…”. Na prática, um embrião em desenvolvimento é um herdeiro potencial, que só espera o momento do seu nascimento para ter a personalidade jurídica que lhe permita herdar.

Suponhamos um exemplo hipotético: A Vanessa e o Ruben casam porque ela está grávida de 8 semanas, o casamento foi quinta – feira dia 11 de Setembro de 2007. Dia 10 entrou em vigor a nova lei do aborto, decorrente da vitória do Sim no referendo. Dia 14 o Ruben ganhou 180 milhões no euromilhões, apanha uma enorme piela , e morre no Sábado de uma infecção fulminante no fígado.

A Vanessa, que tem maus fígados e o 9º ano, faz as contas e diz: - Este raio deste feto vale 90 milhões! Acho que não tenho condições psicológicas para suportar isto, e muito menos condições financeiras para perder assim tanto dinheiro.

Vai à Alfredo da Costa, ao novo Serviço de IVG, criado pelo antigo ministro Correia de Campos e aborta o ex – herdeiro, sem mais justificações, complicações ou custos.

Saturday, January 27, 2007



Sempre Alerta!



Estamos em alerta amarelo por causa da vaga de frio! Se há vinte anos num Inverno com o frio do costume, alguém dissesse isto com ar sério, dir-se-ia que estaria provavelmente bêbado.

Os alertas constantes são a forma ingénua de nos fazerem crer que existe atenção e zelo pela nossa segurança. Mas depois lá vêm os naufrágios, os doentes de Odemira, as inundações e outras desgraças, mostrando que é mais fácil decretar alertas do que acorrer com eficácia aos sinistros.

Os alertas dão “ares” de eficácia e organização. É certo que são “ares” algo ridículos, porque alertar as pessoas para o facto de estarem 6º à noite em Lisboa ou 14º à tarde em Faro, é mesmo ridículo.

Entretanto, em plena “vaga de frio” ocorre um incêndio florestal em Mortágua. É estranho, até porque não consta que tenha sido accionado ao menos um alertazinho de uma cor qualquer, relativo aos fogos florestais (isto apesar da secura do último mês ter criado condições favoráveis ao incêndio). Na realidade, o que é anormal é não chover mais de trinta dias seguidos em Dezembro e Janeiro.

Mas deu uma bela notícia…O fogo devia vir surfando a “onda de calor" e veio afinal com a “vaga de frio”.

Para prevenir estas situações, sugiro que imitemos os escuteiros e nos coloquemos “Sempre Alerta!”. Devia ser decretado o alerta vermelho para tudo: frio; fogos; calor; ventos norte e oeste; apitos dourados; inundações; ventos sul e este; advogados manhosos; neve em Lisboa, e tudo o resto de que se lembrarem. E depois, se o nível da ameaça o permitir, poderemos esporadicamente entrar em “Estado de Não Alerta”.

Isto, até ao dia em que o Terramoto, o Atentado, a Epidemia ou a Guerra, venham por à prova se estamos realmente preparados. Queira Deus que este exame sinistro demore ou não venha nunca.

Tuesday, January 23, 2007


Os puritanos

Do editorial do Expresso on-line:

“Nesta mesma edição, o Expresso revela outro caso. Em certas escolas do país, numa iniciativa que teve a chancela dos ministérios da Saúde e da Educação, e no âmbito de um questionário extenso, perguntou-se a crianças (algumas com 11 anos) se elas alguma vez souberam se o pai (ou o “substituto”, como se escreve nesse inquérito) forçou a mãe a ter relações sexuais não consentidas”

Mais outro problema (a violência doméstica), cuja pseudo resolução permite o exercício de um pequeno poder e a exibição de uma gigantesca mediocridade e baixeza moral.

O cartaz incitando à denúncia que a mesma "estrutura de missão" espalhou pelas ruas do país fazia já esperar o pior. Com este inquérito nojento excederam-se, ou melhor, denunciaram-se…


Thursday, January 18, 2007

O Estado Laico



No Hospital Egas Moniz em Lisboa foram retirados os crucifixos de uma unidade de cuidados intensivos, em nome da lei e da laicidade do Estado. Em vão alguns médicos tentaram fazer ver que muitos doentes encontram ânimo na presença de um símbolo da sua fé, e que isso pode contribuir para a sua cura. Em vão alguns médicos informaram que as pessoas de todas as religiões, e não só os cristãos, podem ser acompanhados por símbolos religiosos naquele hospital, porque, para além dos aspectos morais e de princípio, é um erro técnico privar os doentes de algo que os fortalece. Em vão se relembrou o burocrata que os cristãos estão em larga maioria nas enfermarias do hospital e que, por esse motivo, os símbolos cristãos estão tradicionalmente mais presentes.
Tudo em vão, porque a autoridade do Estado prevaleceu e o funcionário subiu ao escadote e retirou os crucifixos.

O Director Geral dos Impostos mandou rezar uma missa na Sé de Lisboa pedindo a graça de Deus para os funcionários do fisco. À porta da missa estava toda a comunicação social. Os convites para a missa foram feitos pelo Director Geral, demonstrando que tem o poder suficiente para ignorar ostensivamente o princípio da laicidade do Estado e para ignorar também todos os funcionários que não são católicos apostólicos romanos.

A missa dos impostos e a censura dos crucifixos são sintomas de uma orientação clara de manipulação de símbolos. O Director Geral quis associar a imagem dos impostos ao poder Divino, chamar a atenção para a fonte do seu poder pessoal e, ao mesmo tempo, trazer o fisco para uma esfera mais humana de “pessoas que vão à missa”. O Administrador do Hospital quis chamar a atenção para o seu poder, retirando Cristo da parede, antes de passar aos despedimentos, alterações de horários e outros exercícios de poder mais terrenos.

Em ambos os casos, embora de forma contraditória, foi utilizada e manipulada a simbologia religiosa cristã, porque o Estado está a atravessar uma fase aguda da sua tendência crónica e multissecular de controlo da sociedade civil, religião incluída. O fenómeno não é novo e teve como virtuosos intérpretes personagens tão célebres como Sebastião José de Carvalho e Melo, Afonso Costa ou António de Oliveira Salazar.