Mais do que lágrimas
A morte de um jovem amigo relembrou-me que o sofrimento brutal aparece no segundo a seguir, sem explicação, sem apelo e sem justiça. Isto está sempre a acontecer aos outros e de repente toca-nos. A morte do Pedro tocou-me.
Acompanhar o enorme sofrimento fez-me desejar apagá-lo mas foi o próprio Vítor, senhor de si, que lembrou a todos que o amor é eterno, isto é, que a morte nunca triunfará e que o sofrimento encontra o seu sentido na eternidade. Se assim não fosse, que sentido teria a vida?
O meu amigo estava vergado ao peso insuportável da dor, que não me atrevo a imaginar ou descrever, mas a alma não estava vergada e ele disse: - O amor é eterno.
Mas mesmo assim, porque razão morre cedo um jovem luminoso e bom? O sentido total só se encontrará na eternidade, mas é verdade que esta morte brutal e injusta me aproximou do sentido da vida. Recordei então a bela metáfora de Santa Hildegarda: “A pluma voou não porque algo nela a fizesse voar, mas porque o ar a levou. Assim sou eu, uma pluma no sopro de Deus.”
Foi o sopro de Deus que eu senti nas palavras de alguém que eu pensava não ter mais que lágrimas para partilhar.